27 de janeiro de 2012

Renascendo


Sobre o parto, preciso repetir o relato do meu Bem, pois foram momentos muitíssimos tensos, marcantes e milagrosos que merecem ser relatados com o olhar da “vítima”...

Mês antes de parir, eu sonhei que precisava de transfusão de sangue e que, para isso, injetavam uma agulha de sangue no meu pescoço. Meu pai também teve sonho, ou melhor, pesadelo com meu parto.

Não sei o porquê, mas estava sentindo alguma coisa sobre esse parto. Eu estava com medo de morrer de parto. Na família por parte de mãe, tem algumas histórias de morte de parto.

Como o Louva disse, foram cerca de quinze horas de trabalho de parto. Extremamente exaustivo. Eu estava muito exaurida às vésperas do parto, cheguei a pensar se teria a força final suficiente para expulsar, pois estava cansadíssima, além de ter vomitado bastante. Louva sempre ao meu lado, oferecendo-me as forças que eu parecia não ter mais.

Quando atingimos os nove centímetros de dilatação, o Dr. Petrus Sanches falou que estava na hora, dali a menos de uma hora, teríamos Celeste nos braços. Foi quando a bolsa foi rompida, a meu pedido, na intenção de acelerar em alguns minutos o nascimento, já que me encontrava quase sem forças.

Muita, mas muita água correu de mim. Pelos exames ecográficos da véspera, a quantidade de líquido amniótico em mim tinha o limite máximo considerado normal. Seguido o rompimento da bolsa, o Dr. Petrus fez um toque, no qual constatou que o cordão umbilical se encontrava no canal vaginal, ao invés da cabeçinha do bebe. Ele disse que o rompimento da bolsa foi como tirar um ralo de uma banheira. A pressão da água descendo puxou primeiro o cordão umbilical ao invés da cabeça. Ele olhou pra mim e falou “infelizmente, estamos com um quadro de cesárea, a cabeça do bebe vai pinçar o cordão”, o tal prolapso.

Vindo do Dr. Petrus, não questionei a necessidade da cesárea. Ele disse que seria um procedimento de emergência e que, para evitar o prolapso, eu deveria me manter imediatamente em posição de reza maometana.

Não tínhamos tempo para os procedimentos padrões de preparação para a cirurgia, por isso a anestesia foi dada sem anestésico, o que fez com que tivessem que me furar algums vezes na coluna, já que, pra mim, era inevitável me mexer ao sentir a agulha penetrando meu nervo.

Anestesiada, em poucos minutos fui cortada e a Celeste irradiada. Fez-se silêncio na sala e eu tive medo de perguntar qualquer coisa. Passado alguns minutos, eu tinha a certeza do nascimento, mas ninguém me falou nada. Eu perguntei pro Louva: cadê a Celeste¿ Ele disse que ela já tinha nascido. Daí o Dr. Petrus emendou: você ouviu ela chorando¿ O Louva disse que sim. É que ela chorou fora da sala de cirurgia. Foi levada rapidamente pela pediatra sem que me a apresentassem.

Fiquei tranqüila quando o Louva disse que a escutou chorar. Então pedi que ele fosse aonde ela acompanhar os procedimentos.

Louva foi e eu lá deitada, sendo costurada e pensando mil coisas, ansiosa por notícias. Ele voltou com os olhos sorridentes! A transparente alegria do seu olhar confortou-me imediatamente; não tinha como não estar tudo bem com Celeste. “Uma gatinha, Carol! A cara da Cora! Igualzinha! Linda, linda”; “Nasceu roxinha mas tomou um fôlego e já está toda animada, se mexendo bastante!”; “Assim que terminarem os procedimentos, eles vão trazê-la aqui pra você ver”.

Nunca vou esquecer a minha primeira vista dela. Realmente linda, e toda esperta! Inevitáveis lágrimas rolaram pelo meu rosto, pura felicidade. Minha vida mais iluminada naquele instante.

Passados os longos minutos de costura, fomos pra sala de recuperação, onde começaria novo drama. Assim que chegamos, Celeste foi posta em meus braços, dei-lhe o peito. Que emoção: estávamos roçando nossas peles pela primeira vez.

Nessa sala, o Louva não pôde ficar junto por muito tempo. Eu devia ficar ali até passar o efeito da anestesia, em observação. 

Passada uma hora e meia, eu já podia sentir meus membros inferiores e a técnica de enfermagem disse que, por isso, eu estava de alta. Começaram então os procedimentos para eu ser encaminhada para o quarto: retiraram os equipamentos de monitoração dos sinais vitais e deu-se início à minha higienização. Retiraram de mim o cobertor quando, para espanto de todos, foi constatado que tinha sangue na cama da altura da minha cintura aos meus pés.

Um mínimo esforço que fiz, senti-me mal. “Eu tô tonta, não to bem, eu não to bem...” puft, senti o corpo frio, suei gelado, apaguei. Nessa hora, vi a tal luz no fim do túnel. Vi Jesus Cristo me recebendo de braços abertos, crucificado.

(Ainda estou refletindo muito sobre esse episódio, pois minha religiosidade é turbulenta. Ainda não sei bem no que acredito ou creio. Mas o fato é que eu vi Jesus. Pode ter sido a semente plantada no subconsciente, pode ser que não. O certo é que não pestanejei em prestar sinceros agradecimentos aos Céus. Rezei Ave-Maria, Pai-Nosso, Credo... agradeci profundamente a oportunidade de continuar ao lado da minha família em formação).

De repente, estou de volta ao meu corpo e um monte de médicos ao redor. Trouxeram-me de volta os sentidos, colocaram oxigênio e escutei a solicitação imediata de bolsas de sangue. “Você ta bem¿ Você ta bem¿”, fiz que sim com a cabeça desorientada. Pensei: “putz, não vão mais me dar alta daqui, não vou mais pro quarto agora”. Óbvio que estava louca para compartilhar a emoção de estar com Celeste com o Papai e família... era no que me concentrava.

Demoraram, mas chegaram as bolsas de sangue. Nesse intervalo, tive outras duas crises. Somente com o sangue alheio adentrando minhas veias é que a sensação de morrência acabou. (Doem sangue! Salvem vidas!). Escutei a médica dizendo que minha pressão chegou a 5x2, apesar de eu não saber bem o que isso quer dizer.

Durante a transfusão, retornou o Dr. Petrus. Preocupadíssimo, veio me dizer a importância e conseqüências do sangramento: corria sério risco de terem que retirar meu útero. “Carol, o que você pensa sobre ter mais filhos¿ Já conversaram sobre isso¿ É que se esse sangramento não parar, vamos voltar pra sala de cirurgia e retirar seu útero”. Mais lágrimas rolaram sobre meu rosto, só que desta vez, eram lágrimas de profunda tristeza. “Vocês querem mais filhos¿” “quero mais...” chorando. “Não fica assim. Vou fazer de tudo pra evitar isso”. Logo ordenou aos assistentes: “três ampolas de ocitocina no soro, bolsa de gelo sobre o ventre e sonda”. “Vamos ver se conseguimos contrair esse útero e parar o sangramento, tá. Fica tranqüila. Vou lá fora conversar com seu marido e família agora”.

Instalada a sonda, nova surpresa: parecia que a bolsa estava recolhendo sangue ao invés de urina. Dr. Petrus assustou e foi conferir se a sonda estava no lugar certo. Estava. “Carol, está saindo sangue da sua bexiga. Pode ser que ela tenha sido lacerada durante a cirurgia. Se isso tiver acontecido, vamos ter que voltar pra sala de cirurgia e dar uns pontos. Vamos fazer alguns exames agora: tomografia e ecografia para investigarmos esse outro sangramento”.

Feitos os exames, constatou-se que o sangramento não era da bexiga, mas direto dos rins, que estavam dilatados e sangrando, sabe-se lá o porquê. Nenhum médico conseguiu explicar isso ainda.

O fato é que o esforço do Dr. Petrus para evitar a retirada do meu útero funcionou. O sangramento diminuiu e o útero estava respondendo aos estímulos para contração.

O problema agora era o sangramento dos rins. “Carol, vamos te encaminhar pra UTI, onde você vai passar a noite, para que o monitoramento desse sangramento seja mais rigoroso. É possível que você esteja com algum problema de coagulação. O plantonista de hoje é meu amigo e é hematologista. É o Dr. Rodolfo, ele vai saber proceder melhor que eu no controle dessa situação”.

Lá fui eu pra gelada UTI, longe da minha recém-nascida, do calor da família. Mãe, pai e marido foram lá me visitar, sendo que o Louva burlou as regras e foi várias vezes me ver, iluminando e aquecendo meu quarto com seu tenro e induvidável amor.

Noite estranha, sem conseguir dormir bem, apesar do cansaço. Não parava de pensar na família, na Celeste, como estariam¿ Amanhece logo, vai...

Só dava pra saber do amanhecer por causa do relógio da parede. A luz da UTI é a mesma nas 24h do dia. Muita luz, muito bi-bi-bi-bi. Estava ansiosa por sair dali, o que se deu somente depois do almoço.

Fui recebida pelo meu maravilhoso marido carregando Celeste, ao som de Roberto Carlos “eu te darei o céu meu bem, e o meu amor também... eu te darei o céu meu bem e o meu amor também”... e uma mensagem escrita: BEM-VINDA MAMÃE! SENTIMOS MUITO SUA FALTA

(Querido, você não existe... quer dizer existe sim! E é perfeito pra mim. Obrigada por você existir, meu amor!)

Tomei Celeste em meus braços, dei-lhe mama. Amei estar ali.

Logo chegou o Dr. Petrus, falando da possibilidade de alta, a depender do resultado do exame de sangue. O resultado foi desfavorável então eu tive que ficar mais um dia no hospital tomando ferro na veia, mas agora, menos mal, pois ficaria no quarto com meus amores, não na UTI.

Dia seguinte mais um exame de sangue: anemia brava, quadro de transfusão. Mais um dia no hospital, mais ferro na veia.

Cora veio nos ver. Entendeu perfeitamente tudo que estava acontecendo: o nascimento da Celeste. O encontro delas foi uma coisa linda de se ver. Cora amorosissíma com a mana – encheu-lhe de beijos, mimos e abraços. Princesas!

Ah, cabe dizer que Celeste além de fisicamente parecida com a Cora (linda!), é igualmente tranqüila. Mama e dorme, quase não chora. Outra lady. Amorzinho de bebe! Dá trabalho não!

Bom, retomando à história da hospitalização.... Sem atingir o efeito esperado do ferro na veia, foi necessária mais uma transfusão de sangue, recebi outras duas bolsas e enfim: ALTA.
Saímos do hospital às 21h, Vovozão foi nos buscar.

OBA!!! Chegamos em casa! Fomos recebidos pela Cora, Vovó e Tia Dani, que nos preparam um delicioso lanchinho. Coisa boa chegar em casa... estar cercada de pessoas amadas... de cuidados especiais... obrigada por vocês existirem, família amada!

Em casa, sigo recuperando da anemia, que ainda é intensa. Mas melhor que os complementos de ferro e alimentação reforçada, é o amor, carinho e atenção que tenho recebido aqui. Mamãe está sendo MARAVILHOSA! Arlete, Dani, Pai e Alexandre... todos colaborando para que nossa estadia aqui seja super tranqüila e agradável. Muito obrigada! Vocês são ótimos e por isso estou me recuperando ainda mais rápido!

O Louva então... meu amor, meu companheiro, meu alicerce. Cuidadoso, atencioso, carinhoso. Está se desdobrando para cuidar de mim, da Cora e Celeste. E o faz com perfeição. Meu Bem, você é nosso herói! Obrigada por tudo, meu amor! Amo amo amo!

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