Sobre o parto, preciso repetir o relato do meu Bem, pois
foram momentos muitíssimos tensos, marcantes e milagrosos que merecem ser
relatados com o olhar da “vítima”...
Mês antes de parir, eu sonhei que precisava de transfusão de
sangue e que, para isso, injetavam uma agulha de sangue no meu pescoço. Meu pai
também teve sonho, ou melhor, pesadelo com meu parto.
Não sei o porquê, mas estava sentindo alguma coisa sobre
esse parto. Eu estava com medo de morrer de parto. Na família por parte de mãe,
tem algumas histórias de morte de parto.
Como o Louva disse, foram cerca de quinze horas de trabalho de
parto. Extremamente exaustivo. Eu estava muito exaurida às vésperas do parto,
cheguei a pensar se teria a força final suficiente para expulsar, pois estava
cansadíssima, além de ter vomitado bastante. Louva sempre ao meu lado, oferecendo-me as forças que eu parecia não ter mais.
Quando atingimos os nove centímetros de dilatação, o Dr.
Petrus Sanches falou que estava na hora, dali a menos de uma hora, teríamos Celeste nos
braços. Foi quando a bolsa foi rompida, a meu pedido, na intenção de acelerar
em alguns minutos o nascimento, já que me encontrava quase sem forças.
Muita, mas muita água correu de mim. Pelos exames
ecográficos da véspera, a quantidade de líquido amniótico em mim tinha o limite
máximo considerado normal. Seguido o rompimento da bolsa, o Dr. Petrus fez um
toque, no qual constatou que o cordão umbilical se encontrava no canal vaginal,
ao invés da cabeçinha do bebe. Ele disse que o rompimento da bolsa foi como
tirar um ralo de uma banheira. A pressão da água descendo puxou primeiro o
cordão umbilical ao invés da cabeça. Ele olhou pra mim e falou “infelizmente, estamos
com um quadro de cesárea, a cabeça do bebe vai pinçar o cordão”, o tal
prolapso.
Vindo do Dr. Petrus, não questionei a necessidade da
cesárea. Ele disse que seria um procedimento de emergência e que, para evitar o
prolapso, eu deveria me manter imediatamente em posição de reza maometana.
Não tínhamos tempo para os procedimentos padrões de
preparação para a cirurgia, por isso a anestesia foi dada sem anestésico, o que
fez com que tivessem que me furar algums vezes na coluna, já que, pra mim, era
inevitável me mexer ao sentir a agulha penetrando meu nervo.
Anestesiada, em poucos minutos fui cortada e a Celeste
irradiada. Fez-se silêncio na sala e eu tive medo de perguntar qualquer coisa.
Passado alguns minutos, eu tinha a certeza do nascimento, mas ninguém me falou
nada. Eu perguntei pro Louva: cadê a Celeste¿ Ele disse que ela já tinha
nascido. Daí o Dr. Petrus emendou: você ouviu ela chorando¿ O Louva disse que
sim. É que ela chorou fora da sala de cirurgia. Foi levada rapidamente pela
pediatra sem que me a apresentassem.
Fiquei tranqüila quando o Louva disse que a escutou chorar.
Então pedi que ele fosse aonde ela acompanhar os procedimentos.
Louva foi e eu lá deitada, sendo costurada e pensando mil
coisas, ansiosa por notícias. Ele voltou com os olhos sorridentes! A
transparente alegria do seu olhar confortou-me imediatamente; não tinha como
não estar tudo bem com Celeste. “Uma gatinha, Carol! A cara da Cora! Igualzinha!
Linda, linda”; “Nasceu roxinha mas tomou um fôlego e já está toda animada, se
mexendo bastante!”; “Assim que terminarem os procedimentos, eles vão trazê-la
aqui pra você ver”.
Nunca vou esquecer a minha primeira vista dela. Realmente
linda, e toda esperta! Inevitáveis lágrimas rolaram pelo meu rosto, pura
felicidade. Minha vida mais iluminada naquele instante.
Passados os longos minutos de costura, fomos pra sala de recuperação,
onde começaria novo drama. Assim que chegamos, Celeste foi posta em meus
braços, dei-lhe o peito. Que emoção: estávamos roçando nossas peles pela
primeira vez.
Nessa sala, o Louva não pôde ficar junto por muito tempo. Eu
devia ficar ali até passar o efeito da anestesia, em observação.
Passada uma hora e meia, eu já podia sentir meus membros
inferiores e a técnica de enfermagem disse que, por isso, eu estava de alta.
Começaram então os procedimentos para eu ser encaminhada para o quarto:
retiraram os equipamentos de monitoração dos sinais vitais e deu-se início à
minha higienização. Retiraram de mim o cobertor quando, para espanto de todos,
foi constatado que tinha sangue na cama da altura da minha cintura aos meus
pés.
Um mínimo esforço que fiz, senti-me mal. “Eu tô tonta, não to
bem, eu não to bem...” puft, senti o corpo frio, suei gelado, apaguei. Nessa
hora, vi a tal luz no fim do túnel. Vi Jesus Cristo me recebendo de braços
abertos, crucificado.
(Ainda estou refletindo muito sobre esse episódio, pois
minha religiosidade é turbulenta. Ainda não sei bem no que acredito ou creio.
Mas o fato é que eu vi Jesus. Pode ter sido a semente plantada no subconsciente,
pode ser que não. O certo é que não pestanejei em prestar sinceros
agradecimentos aos Céus. Rezei Ave-Maria, Pai-Nosso, Credo... agradeci
profundamente a oportunidade de continuar ao lado da minha família em
formação).
De repente, estou de volta ao meu corpo e um monte de
médicos ao redor. Trouxeram-me de volta os sentidos, colocaram oxigênio e
escutei a solicitação imediata de bolsas de sangue. “Você ta bem¿ Você ta bem¿”,
fiz que sim com a cabeça desorientada. Pensei: “putz, não vão mais me dar alta
daqui, não vou mais pro quarto agora”. Óbvio que estava louca para compartilhar
a emoção de estar com Celeste com o Papai e família... era no que me
concentrava.
Demoraram, mas chegaram as bolsas de sangue. Nesse
intervalo, tive outras duas crises. Somente com o sangue alheio adentrando minhas
veias é que a sensação de morrência acabou. (Doem sangue! Salvem vidas!). Escutei
a médica dizendo que minha pressão chegou a 5x2, apesar de eu não saber bem o
que isso quer dizer.
Durante a transfusão, retornou o Dr. Petrus.
Preocupadíssimo, veio me dizer a importância e conseqüências do sangramento:
corria sério risco de terem que retirar meu útero. “Carol, o que você pensa
sobre ter mais filhos¿ Já conversaram sobre isso¿ É que se esse sangramento não
parar, vamos voltar pra sala de cirurgia e retirar seu útero”. Mais lágrimas
rolaram sobre meu rosto, só que desta vez, eram lágrimas de profunda tristeza. “Vocês
querem mais filhos¿” “quero mais...” chorando. “Não fica assim. Vou fazer de
tudo pra evitar isso”. Logo ordenou aos assistentes: “três ampolas de ocitocina
no soro, bolsa de gelo sobre o ventre e sonda”. “Vamos ver se conseguimos
contrair esse útero e parar o sangramento, tá. Fica tranqüila. Vou lá fora
conversar com seu marido e família agora”.
Instalada a sonda, nova surpresa: parecia que a bolsa estava
recolhendo sangue ao invés de urina. Dr. Petrus assustou e foi conferir se a
sonda estava no lugar certo. Estava. “Carol, está saindo sangue da sua bexiga.
Pode ser que ela tenha sido lacerada durante a cirurgia. Se isso tiver
acontecido, vamos ter que voltar pra sala de cirurgia e dar uns pontos. Vamos
fazer alguns exames agora: tomografia e ecografia para investigarmos esse outro
sangramento”.
Feitos os exames, constatou-se que o sangramento não era da
bexiga, mas direto dos rins, que estavam dilatados e sangrando, sabe-se lá o
porquê. Nenhum médico conseguiu explicar isso ainda.
O fato é que o esforço do Dr. Petrus para evitar a retirada
do meu útero funcionou. O sangramento diminuiu e o útero estava respondendo aos
estímulos para contração.
O problema agora era o sangramento dos rins. “Carol, vamos
te encaminhar pra UTI, onde você vai passar a noite, para que o monitoramento
desse sangramento seja mais rigoroso. É possível que você esteja com algum
problema de coagulação. O plantonista de hoje é meu amigo e é hematologista. É o
Dr. Rodolfo, ele vai saber proceder melhor que eu no controle dessa situação”.
Lá fui eu pra gelada UTI, longe da minha recém-nascida, do
calor da família. Mãe, pai e marido foram lá me visitar, sendo que o Louva burlou
as regras e foi várias vezes me ver, iluminando e aquecendo meu quarto com seu tenro
e induvidável amor.
Noite estranha, sem conseguir dormir bem, apesar do cansaço.
Não parava de pensar na família, na Celeste, como estariam¿ Amanhece logo,
vai...
Só dava pra saber do amanhecer por causa do relógio da
parede. A luz da UTI é a mesma nas 24h do dia. Muita luz, muito bi-bi-bi-bi.
Estava ansiosa por sair dali, o que se deu somente depois do almoço.
Fui recebida pelo meu maravilhoso marido carregando Celeste,
ao som de Roberto Carlos “eu te darei o céu meu bem, e o meu amor também... eu
te darei o céu meu bem e o meu amor também”... e uma mensagem escrita:
BEM-VINDA MAMÃE! SENTIMOS MUITO SUA FALTA
(Querido, você não existe... quer dizer existe sim! E é
perfeito pra mim. Obrigada por você existir, meu amor!)
Tomei Celeste em meus braços, dei-lhe mama. Amei estar ali.
Logo chegou o Dr. Petrus, falando da possibilidade de alta,
a depender do resultado do exame de sangue. O resultado foi desfavorável então
eu tive que ficar mais um dia no hospital tomando ferro na veia, mas agora, menos
mal, pois ficaria no quarto com meus amores, não na UTI.
Dia seguinte mais um exame de sangue: anemia brava, quadro
de transfusão. Mais um dia no hospital, mais ferro na veia.
Cora veio nos ver. Entendeu perfeitamente tudo que estava
acontecendo: o nascimento da Celeste. O encontro delas foi uma coisa linda de
se ver. Cora amorosissíma com a mana – encheu-lhe de beijos, mimos e abraços.
Princesas!
Ah, cabe dizer que Celeste além de fisicamente parecida com
a Cora (linda!), é igualmente tranqüila. Mama e dorme, quase não chora. Outra
lady. Amorzinho de bebe! Dá trabalho não!
Bom, retomando à história da hospitalização.... Sem atingir
o efeito esperado do ferro na veia, foi necessária mais uma transfusão de
sangue, recebi outras duas bolsas e enfim: ALTA.
Saímos do hospital às 21h, Vovozão foi nos buscar.
OBA!!! Chegamos em casa! Fomos recebidos pela Cora, Vovó e Tia
Dani, que nos preparam um delicioso lanchinho. Coisa boa chegar em casa...
estar cercada de pessoas amadas... de cuidados especiais... obrigada por vocês
existirem, família amada!
Em casa, sigo recuperando da anemia, que ainda é intensa. Mas
melhor que os complementos de ferro e alimentação reforçada, é o amor, carinho
e atenção que tenho recebido aqui. Mamãe está sendo MARAVILHOSA! Arlete, Dani,
Pai e Alexandre... todos colaborando para que nossa estadia aqui seja super tranqüila
e agradável. Muito obrigada! Vocês são ótimos e por isso estou me recuperando
ainda mais rápido!
O Louva então... meu amor, meu companheiro, meu alicerce.
Cuidadoso, atencioso, carinhoso. Está se desdobrando para cuidar de mim, da
Cora e Celeste. E o faz com perfeição. Meu Bem, você é nosso herói! Obrigada
por tudo, meu amor! Amo amo amo!